Fiquei sabendo ontem,
pelo blog da Lola, que o Fantástico fez uma reportagem com a Fran, de Goiânia,
menina que infelizmente ficou conhecida no Brasil inteiro depois que o ex-namorado
divulgou um vídeo dela na internet, pasmem, fazendo sexo. Não matando, não
roubando, não xingando pessoas em caixas de comentário na internet. Fazendo sexo.
Coisa que quase todo mundo faz, diariamente, no mundo todo.
A reportagem foi muito
bacana. Não detectei nenhum traço de sexismo nela, o que até alguns anos atrás não
seria nenhuma surpresa. Na verdade, ela foi superinformativa e
conscientizadora. Fico feliz de ver uma emissora forte como a Globo passar uma
mensagem dessas, especialmente quando a mesma emissora apresenta uma novela que
associa homofobia, infidelidade e misoginia ao cara gente boa.
Essa modalidade de revenge porn está, infelizmente, cada
vez mais comum com o avanço da tecnologia. Se antes tudo o que o machistinha
podia fazer era falar mal da mulher pela cidade, hoje ele conta com todo um
aparato tecnológico que permite que ele distribua o rosto e as informações
pessoais da mulher em questão pelo mundo inteiro, jogando-a para os leões
sempre prontos a julgar a liberdade sexual dos outros (aliás, das outras,
porque os homens dos vídeos nunca são vítimas de críticas).
Acho que esse é o tipo
de situação em que é impossível mensurar o tamanho do estrago, a não ser que a
gente viva na pele.
Arrisco-me a dizer que
nunca, em nenhum dos casos que caiu na grande mídia, o homem foi culpado de
alguma coisa. Depois, talvez, considere-se que ele não deveria ter vazado as
imagens (poxa, que chato!); mas a esmagadora maioria vai seguir por linhas como
“ela se deixou filmar”, “bem feito,
quem mandou ser vadia”, “onde já se viu, fazer sexo!”. Se o ato for remotamente
fora do arroz-com-feijão da população em geral, então, esqueça o bom senso. Sexo
à três? Bruxa! Anal? Bruxa! Não tem jeito.
E o mais triste é
perceber que isso não é de hoje. Desde os tempos do finado Orkut, quando o
Whatsapp não era nem uma possibilidade remota, mulheres já tinham suas vidas
futricadas e destruídas desse jeito.
A esperança que fica é
que hoje é possível revidar. É, sim, crime quando uma pessoa divulga imagens
suas fazendo qualquer coisa – sexo, escalada, banho de sol, etc. – sem a sua
autorização. Isso se chama direito de imagem. E, claro, a coisa se agrava pelo
dano emocional e financeiro causado pela infantilidade do sujeito que divulga
as imagens.
Mas eu sou sempre o
insatisfeito. Ainda espero por um tempo em que casos como esse não ocorram mais
e, se ocorrerem, que toda a opinião pública se volte contra o responsável pelo
vazamento, não conta a mulher, vítima da situação. Ainda tenho esperanças que
casos como o da Fran, que teve até um movimento de apoio ridicularizado, sejam
coisa do passado.
E que os vídeos
compartilhados pelo Whatsapp se limitem a gatinhos engraçados.
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